Texto: Gustavo Araújo Batista*
Em 2019, comemora-se o quinquagésimo aniversário de Woodstock Music & Art Fair. Tal data não poderia deixar de ser celebrada, uma vez que, além de ser um dos festivais musicais mais aclamados dos últimos cinquenta anos, o festival norte-americano converteu-se num dos maiores símbolos da reação da juventude do final da década de 1960 contra os valores sociais dominantes. Segundo Michael Lang, um dos seus fundadores: “Woodstock 1969 foi uma reação da juventude ao seu tempo e às condições que enfrentávamos. […] Nós provamos que é possível viver juntos em harmonia e com compaixão… com apenas o melhor de nós mesmos representado. Woodstock deu às pessoas ao redor do mundo esperança, razão pela qual eu penso que ele permanece relevante hoje” (Fonte: woodstock.com/history; acesso: 22/03/2019).
O primeiro festival foi realizado em uma fazenda leiteira, em Catskill Mountains, a noroeste da cidade de Nova Iorque (EUA), entre os dias 15 a 18 de Agosto de 1969. Mais de quatrocentas mil pessoas lá compareceram, segundo dados fornecidos por: Spokane Daily Chronicle, Chicago Tribune, Eugene Register-Guard e Oxford Music Online. No pôster desenhado por Arnold Skolnick, logo abaixo do título do evento, havia o seguinte anúncio: “Uma Exposição Aquariana: Três Dias de Paz e Música”; tratava-se duma programação a ser realizada na propriedade rural de Max Yasgur (1919-1973), em Bethel, próxima a White Lake, Estado de Nova Iorque, a setenta quilômetros a sudoeste da cidade de Woodstock. Apesar de ter ocorrido num final de semana chuvoso, houve mais de trinta apresentações, as quais podem ser classificadas nos seguintes gêneros: rock e folk; incluindo-se: blues rock, folk rock, jazz fusion, hard rock, latin rock, psychedelic rock.
Woodstock é amplamente considerado um marco na história da música popular, assim como se encontra definitivamente vinculado à maior parte da geração da contracultura. A revista norte-americana Rolling Stone considerou-o o 19º. colocado entre os 50 Momentos que mudaram a história do Rock and Roll. Em 1970, o evento atraiu a atenção da Academy Award, também conhecida por The Oscars, através do documentário homônimo (Woodstock), do álbum da trilha sonora que o acompanhava e da canção homônima (Woodstock) de Joni Michell, comemorativa do evento.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por seus organizadores, dentre as quais se encontravam problemas quanto ao local em que seria realizado o evento, recusas de convites de participação vindos de artistas, o desencorajamento ao comparecimento ao evento, feito por emissoras de rádio e televisão, assim como o receio de que tantas pessoas reunidas num mesmo lugar poderiam ser causa de crimes, desordens, tumultos ou violências de todos os tipos, além das dificuldades de acesso, devido às chuvas, que inviabilizavam o uso de estradas e a permanência em áreas rurais, Woodstock transcorreu inacreditavelmente de forma pacífica.
Apenas duas fatalidades foram registradas: uma morte por uso de insulina; outra por acidente, causado por um trator que passou por cima dum dos participantes do evento, que dormia próximo a um capinzal. Dois nascimentos foram registrados, assim como quatro abortos. Entretanto, testemunhos orais colhidos no documentário do evento relatam mortes por overdose e por atropelamento. Seja como for, para um evento que reuniu centenas de participantes, há que se considerar que até que não foram muitos os acontecimentos funestos, pois, em contrapartida, predominava o senso de harmonia social, o qual, somado à qualidade da música e à avassaladora quantidade de pessoas, fazia com que muitas pessoas tivessem atitudes ou condutas não-convencionais.
Aberto pelas seguintes palavras de Sri Swami Satchidananda (1914-2002), professor religioso, mestre espiritual e adepto de ioga: “Eu estou impressionado com a alegria de ver toda a juventude da América aqui reunida em nome da fina arte da música” (Fonte: woodstock.com/history; acesso: 22/03/2019), Woodstock fez jus à presença de personalidade tão amável quanto pacífica, uma vez que, ao seu final, o supracitado Max Yasgur afirmou que fora uma vitória da paz e do amor, conforme atestam suas palavras: “Se nós os reunimos, nós podemos tornar aquelas adversidades que são os problemas da América hoje numa esperança dum futuro mais brilhante e pacífico” (Idem).
Woodstock mostrou ao mundo que muitas pessoas podem ser reunidas em nome de ideais nobres, apesar de tantos empecilhos. Sua música ecoa pela posteridade, revelando sua melodia, sua harmonia e seu ritmo, em favor do amor, da liberdade e da paz. Por isso, Woodstock agora é muito mais que um evento; é uma perspectiva de transcendência, na qual é possível libertar-se daquilo que impede a humanidade de trilhar caminhos que levem à felicidade.
Que, ao chegarem os dias 16, 17 e 18 de Agosto de 2019, Woodstock seja lembrado mais uma vez como o conjunto de vozes que se uniram em favor de valores construtivos, ouvidas, por sua vez, por quem busca um mundo no qual o ódio não triunfe sobre o amor, a fim de que o bem floresça nos corações e que a paz reine nos espíritos atribulados por tantas coisas aviltantes, que tiram a humanidade da senda que a levará a construir uma versão aprimorada de si mesma!
* Gustavo Araújo Batista é professor do ensino superior (graduação e pós-graduação). Graduação nas áreas de Letras e de Filosofia. Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado na área da Educação.