Sexta-feira/ 22/ Novembro, 2024 - 5:43

Estrela do Sul – MG é cenário para o cinema

Estrela do Sul – MG é cenário para o cinema

O filme Valentina foi rodado na terra do diamante e de Dona Beja

DOIS MESES MUDARAM a rotina da pacata e charmosa Estrela do Sul, cidade do interior de Minas Gerais, localizada no Triângulo Mineiro, com menos de 10 mil habitantes, porém, marcada pelo aconchego e acolhida de seus moradores e também pela riqueza  histórica e belezas naturais. O filme Valentina encontrou ali o cenário perfeito para contar a história de uma garota transexual  que, ao vir morar com sua mãe em uma cidade pequena do interior, enfrenta muitas dificuldades, principalmente por querer continuar os estudos e matricular-se na escola, usando seu nome social. Os obstáculos aumentam com a ausência de seu pai, que está  desaparecido e Valentina precisa dele para conseguir fazer a matrícula.

Foto: Alexandre Galante

Segundo o diretor Kassio, da Campo Cerrado Produções, a ideia de produzir esse longa metragem, de aproximadamente 100 minutos, surgiu de uma pesquisa sobre a temática tão atual  que envolve o universo LGBT e as dificuldades enfrentadas pela maio- ria dessas pessoas, desde o preconceito, bullying e até mesmo a luta por direitos na sociedade. Ele ressalta que a Campo Cerrado Produções  se propõe à abordagem de temas que envolvem entretenimento e também questões sociais. “Esses temas estão no DNA da Campo Cerrado Produções”.

Valentina agora entra para a fase de pós-produção, deve ser finalizado em janeiro  próximo e o lançamento está previsto para março de 2020 nas salas de cinema de todo Brasil. Kassio ainda faz observações sobre fazer cinema no Brasil, as dificuldades, obstáculos, desafios, as diárias cansativas, jornadas de trabalho intensas,  mas também  fala das recompensas e realizações, o convívio e o relacionamento com todas as pessoas envolvidas,  a cooperação entre todos… ele, ainda, ressalta: “Cinema é a arte de criar em conjunto”.

Foto: Arquivo pessoal

Ao lado de Kassio, sua Irmã Erika, que também é sócia da Campo Cerrado Produções, destacou a importância desse trabalho em equipe, onde tudo deve estar integrado harmoniosamente. “Nos tornamos não só uma equipe de cinema, mas, sim uma família pra lá de especial”, ela disse, emocionada. E Estrela do Sul foi o cenário perfeito para essa integração: cidade charmosa, com cenários bucólicos, gente simples e acolhedora, que agora estará eternizada nas telinhas.

Erika nos contou que o projeto do filme teve início em 2013, quando ela, Cássio e Denise se inscreveram em um edital de cultura de Brasília para desenvolver o roteiro; posteriormente, entraram em um edital maior de produção de longa metragem. O trabalho de escolha dos 40 atores teve a duração de um ano. A primeira escolha foi da atriz que faria a protagonista Valentina. Depois de uma seleção com  40 garotas que tinham os indicadores solicitados ( ser garota transexual com até 30 anos de idade), Thiessa Woinbackk, da cidade de Catalão–GO, indiscutivelmente, foi a escolha perfeita para o papel. E ainda um último contato chamou muito a atenção: a  talentosa e simpática Guta Stresser, apaixonou-se pelo roteiro, especialmente pela causa,  e aceitou fazer a personagem Márcia, mãe de Valentina.

Foto: Alexandre Galante
Walder Miranda-Diretor Executivo / Foto: Marcio Junio

O Diretor Executivo Walder Miranda, juntamente com Natalia Brandino, foram os responsáveis pela logística que envolve a produção do filme, desde a estrutura do local escolhido, atores, equipe de trabalho, hospedagem e alimentação, transporte, materiais e toda a gestão dos recursos financeiros que viabilizam a execução das filmagens. As dificuldades de trabalhar na produção de um filme de baixo orçamento (R$1.250.000,00) não ofuscaram o brilho desse longa metragem, que traz uma história simples e sensível.

Naná – 1ª Assistente de Direção
Foto: Marcio Junio

Naná, a primeira assistente de direção, também falou sobre a importância dessa logística de produção, com equipes bem setorizadas para atender as demandas das filmagens e também a rotina da cidade, muitas vezes, com gravações até as quatro horas da madrugada, o controle de sons ambientais, fechamentos de ruas e outros locais para as filmagens.  Ela se diz muito feliz com os resultados em poder comunicar, através do filme, a necessidade de aceitação, superação das diferenças e do respeito que toda pessoa merece.

O último dia de filmagens do longa Valentina foi marcado por agradecimentos a todos os integrantes da equipe, ao povo receptivo e acolhedor da cidade de Estrela do Sul, à Prefeita Deise Galante e demais autoridades envolvidas, e também  pela despedida e muitas emoções, manifestadas através das palavras e expressões: saudade, coração apertadinho, sensação de dever cumprido, alegria, realização, energia, amizade, acolhida, GRATIDÃO…

Falando Com o elenco

João Gotti, no filme  Valentina,  você faz o Lauro,  o antagonista ou vilão da história.O que nos diz sobre esse personagem?

João Gotti – Ator Foto: Marcio Junio

Valentina conta uma história muito bonita, ao mesmo tempo forte e corajosa, e hoje, no nosso contexto político-social, ganha uma  força extra, uma potência maior. A nossa heroína passa por diversas situações para conseguir o que ela quer, alcançar seus objetivos, ter seus direitos respeitados. Há na história forças que a ajudam e forças que a atrapalham. Lauro  representa uma dessas forças antagônicas, faz parte desse universo obscuro que tentará impedir Valentina de realizar seus sonhos. O filme é muito bonito e Lauro, para mim, foi um presente, um personagem de peso assim é sempre um presente.

Como foi gravar em Estrela do Sul? Você já conhecia  a cidade?

Não conhecia a cidade, mas fiquei logo apaixonado. Eu adoro cidades históricas, gosto muito da arquitetura e até já conheço algumas cidades históricas de Minas, como Ouro Preto, Diamantina… Eu fiquei surpreso com as histórias muito bonitas de Estrela e também com a acolhida e receptividade de seus moradores.

Como você vê esse momento  do cinema nacional?

O cinema nacional está passando por um momento razoavelmente crítico.  Há quase uma década,  nossa indústria cinematográfica tem apresentado crescimento, lucro, resultados positivos e até premiações importantes, como recentemente em Cannes. Mas as políticas atuais, voltadas para contingenciamentos e cortes, afetam diretamente o cinema nacional, que deveria ser incentivado. Não há motivo para desestruturar o cinema brasileiro.

Que mensagem você deixa para as pessoas que conheceu  e os momentos que vivenciou em Estrela do Sul?

A palavra  é gratidão. Ficamos muito felizes  e agradecidos. Todo esse convívio nos leva, de alguma forma, a fazer parte da cidade. É  por   isso que é tão difícil  ir embora. Fomos muito bem recebidos aqui, vocês são incríveis

Guta Stresser vive a personagem “Márcia” no filme Valentina

Foto: Alexandre Galante / Entrevista: Eduardo Augusto – Na foto Guta Stresser “Márcia” e Thiessa Woinbackk “Valentina”

Como é que está sendo  para você, Guta, trabalhar  aqui em Estrela  do Sul, fazendo o filme Valentina?

Bom, Estrela do Sul, para mim, foi uma surpresa maravilhosa. Quando me convidaram para fazer o filme e disseram que iríamos gravar numa cidade de Minas chamada Estrela do Sul, fui  ao Google e pesquisei , vi que se tratava de uma cidade histórica, que teve D. Beja como uma de suas importantes moradoras, o garimpo, o diamante que deu nome à cidade, antes chamada de Bagagem por causa do  lindo rio de mesmo nome. Quando cheguei, me apaixonei por Estrela, eu costumo comparar com Macondo do livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, aquela vila, onde todos se conhecem, os moradores e suas histórias e tantos “causos”, o povo muito acolhedor, em todo lugar em que se vai tem sempre algo pra oferecer, uma comidinha, um cafezinho, um bolinho e pão de queijo. Me apaixonei pela cidade. Durante um mês e meio em que fiquei morando aqui na Pousada da Bagagem e o meu quintal  é o rio Bagagem, maravilhoso…

Sobre o filme Valentina, digo que também me apaixonei  ao ler o roteiro, quando cheguei aqui me apaixonei pela equipe e por Tiessa, que faz a Valentina e se revelou uma atriz maravilhosa, cheia de recursos;  foi um prazer contracenar com ela e com todo o elenco maravilhoso. Valentina é um filme muito importante, muito emocionante, que aborda um tema que precisa ser muito discutido e respeitado. Meu personagem é Márcia, uma super mãe, mãezona, mãe leoa que irá lutar junto com a filha, Valentina, para que seus direitos sejam respeitados.

Você já tem filhos?

Ainda não. Tenho quatro cachorros (risos) e um enteado, que é filho de meu marido. Eu o conheci com sete aninhos de idade e hoje tem dezoito, é como se fosse um filho… mas eu ainda pretendo adotar, gosto muito de crianças.

Você já teve uma boa experiência com o filme…

Sim, já tive muitos filhos na ficção, em Malhação fui mãe da personagem  Maria Alice e mãe adotiva da personagem Pérola; em A Grande Família, mãe do pequeno Florianinho, entre  outros trabalhos em que atuei como mãe. E todos esses filhos da ficção acabam sendo adotados por mim como filhos… eu adoro todos.

Quando eu disse que iria entrevistar a atriz Guta Stresser,  meus amigos  me disseram  “Não acredito,  você vai entrevistar a Bebel da Grande Família? Eu adoro a Bebel…”foi um personagem que te marcou demais, não é mesmo?

Sim…foram 14 anos no ar, sou muito grata a tudo que a personagem me trouxe, tudo o que a Grande família me trouxe, eu me sinto como a filha de cada família Brasileira.

O personagem, às vezes, se mistura  com a vida real?

Eu acho que sim, eu aqui já tô falando um pouco com sotaque mineiro, ao fazer a Márcia, que é mineira , percebo que de vez em quando a gente mistura tudo “mêsss”, né? (= mesmo). De repente, a gente tá assim, falando bem minerim…(rs rs rs). E, com certeza, eu tenho muito da Bebel e a Bebel tem muito de mim, assim como todos os personagens que fazemos.

Último dia de filmagens…qual é a sensação?

Nóóó! Nuuhh! A gente fica com o coração apertado, a convivência do cinema é mui- to intensa, acaba que vira uma família mesmo, muita união, muitas amizades, o coraçãozinho fica apertadinho, porque é despedida, não só do filme, mas também de Estrela. Eu sempre digo que eu posso sair de Estrela, mas Estrela não vai sair de mim. Pretendo voltar aqui, sempre que puder, inclusive para o lançamento do filme em praça pública.

Muito obrigado, Guta, por esta entrevista.Você é uma simpatia!

Eu que agradeço. Quero mandar um beijo para o pessoal de Minas Gerais, especialmente para o povo de Estrela do Sul.  Olha, povo de Estrela, (muito emocionada), não tenho palavras para agradecer o quanto de carinho  eu recebi aqui, muito, muito obrigada, gratidão pra sempre! Queria falar de um por um, mas sintam-se  todos beijados por mim.

Para a cidade de Estrela, eu desejo muita sorte, desejo que o projeto de despoluição do rio Bagagem seja  concretizado, desejo que a Igreja dos Escravos, lugar lindo de energia muito forte, seja restaurada devidamente, desejo que criem projetos para cuidar dos cachorrinhos e gatinhos soltos  nas ruas e que as pessoas  se conscientizem em não abandoná-los, desejo que o turismo cresça, enfim, espero que a movimentação trazida com esse filme possa trazer muitas coisas boas para a cidade de Estrela do Sul.

Foto: Marcio Junio / Guta se despede de Estrela do Sul ao lado da prefeita Dayse Galante, alunos, professores e servidores municipais.

2 COMENTÁRIOS

  1. Gostei muito de Estrela do Sul e me emocionei com o filme, temática muito atual e nescessária a discusão.
    Gostei muito de Estrela do Sul e planejo conhecê-la.

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